Aumento do lixo domiciliar exige maior investimento de condomínios

Plástico mata um em 10 animais marinhos no Brasil, espécies são afetadas tanto pelos itens descartáveis quanto pelo microplástico

Durante o auge da pandemia, a produção de lixo domiciliar nos grandes centros urbanos cresceu de 15% a 25%, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrepe). A manutenção de muitas atividades em home-office vem ajudando a manter os índices ainda altos, quando comparados a 2019. Estudo da Cipa, realizado junto aos mais de 1.300 condomínios que administra, revela que o gasto com coleta, coletores e compactadores de lixo chegou a R$ 272,7 mil entre janeiro e outubro deste ano.

O levantamento aponta que os condomínios da Zona Oeste são os que mais gastam com lixo (R$ 106,8 mil), seguido por Zona Sul (R$ 65,1 mil), Centro (R$ 63,8 mil) e Zona Norte (R$ 42 mil).

Dados do estudo da Oceana Brasil, ainda que subestimados, indicam que um em cada 10 animais marinhos que apareceram mortos em praias das regiões Sul e Sudeste – únicas que mantêm uma estrutura de pesquisa e monitoramento ligados às bacias da Petrobras – tiveram a ingestão de plástico como causa do óbito.

A estimativa mundial é de que a cada minuto, um caminhão de lixo plástico seja jogado ao mar. Uma vez nos oceanos, esses itens de plástico descartável, como sacolas, canudos, pratos, talheres, não se restringem à superfície do mar e nem ao local de origem – muito dessa poluição segue arrastada pelas correntes marinhas. Há presença de plástico mesmo em lugares considerados paradisíacos, sem a presença ostensiva de humanos. No trajeto, essa mancha de lixo boiando pode tanto ser ingerida por mamíferos, aves, peixes e tartarugas, quanto se enroscar em seus corpos, tirando sua mobilidade, podendo levá-los à asfixia.

Segundo o relatório, mais de 800 espécies de mamíferos, aves marinhas, peixes e tartarugas estão sendo impactadas pelo emaranhamento de redes de pesca ou pela ingestão de plástico. Cerca de 90% de espécies de aves marinhas e tartarugas já consumiram plásticos; 17% das espécies afetadas por tais detritos estão listadas como ameaçadas ou quase ameaçadas de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Essa macropoluição plástica ainda dá origem a um outro problema relevante. Uma vez no mar, o plástico não se decompõe – ele se degrada em pedaços cada vez menores e dá origem aos microplásticos. Um inimigo nem sempre visível a olho nu, mas que tem sido detectado em organismos das mais variadas espécies marinhas e, para espanto da comunidade científica, também no ser humano (já detectado no sangue, na placenta, nos pulmões e, mais recentemente, no leite materno).

Essas pesquisas trazem números assustadores sobre animais necropsiados. Entre 2015 e 2019, de 29.010 análises em corpos de golfinhos, baleias, aves e répteis, 3.725 tinham algum tipo de detrito não natural no organismo. Aproximadamente 13% foram a óbito diretamente causado pelo consumo desses poluentes, sendo que 85% eram de espécies ameaçadas de extinção.

Essas análises apontaram a presença de diversos materiais. Havia sacolas de embalagens, tampas de caneta e de garrafas PET, botões, buchas de parafuso, pulseiras, canudos, lacres de alimentos embutidos, palitos, copos descartáveis e outros materiais descritos como “plásticos e microplásticos”. Os cientistas também encontraram os polímeros sintéticos que derivam do plástico, a exemplo de fios de náilon, linhas e redes de pesca, esponjas de limpeza, fitas adesivas e isolantes, cordões e fibras sintéticas.