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Ameaças e agressões teriam começado por causa do estilo das roupas usadas por Ayarla, que também é dançarina e produz conteúdo para plataformas de vídeo

 

A influenciadora digital Ayarla Souza, de 22 anos, afirma ter sido agredida por vizinhas no condomínio em que mora, em Arujá, por usar short curto. Segundo a jovem, que vive no residencial há apenas duas semanas, as agressões ocorreram na última sexta-feira (16), mas as ameaças começaram no dia anterior.

As supostas agressoras ainda teriam criado um grupo de moradores em uma rede social, onde compartilharam fotos com xingamentos e acusações de que ela seria garota de programa. Ayarla, no entanto, explica que divide a mansão com amigos influenciadores e que produz vídeos com coreografias de músicas para internet.

"Eu estou muito mal, mas eu estou tentando ser forte e superar isso. Realmente, nunca imaginei que isso aconteceria comigo. Eu nunca fiz mal para ninguém aqui, eu nem conheço as pessoas. Eles nem me conhecem para estar me julgando", disse.

No mesmo dia, a influencer registrou um boletim de ocorrência por lesão corporal, ameaça e injúria na Delegacia de Arujá. A Secretaria de Segurança Pública informou que a unidade colheu o depoimento de todas as partes envolvidas e orientou a vítima quanto ao prazo de representação criminal. Diligências estão em andamento para esclarecer os fatos.

O advogado da vítima, Fábio Costa, informou que vai entrar com uma ação na Justiça contra as agressoras e o residencial, que passou a impedir que ela receba visitas desde o ocorrido.

O condomínio informou ao G1 que, por causa do feriado de Tiradentes, a administração não está presente para comentar o caso e só poderá se manifestar nesta quinta (22). As supostas agressoras não foram encontradas para comentar o caso.

Os vídeos gravados pelos amigos da influenciadora mostram o momento em que ela é abordada pelas mulheres, que começam a agredi-la. As suspeitas puxam o cabelo da dançarina, que revida, até que dois seguranças aparecem para separá-las (assista acima).

Após as agressões, Ayarla procurou atendimento médico. Um relatório emitido pelo profissional de saúde aponta que ela sofreu escoriações no rosto, lesões nas unhas das mãos e inchaço no tornozelo direito, o que afetou o movimento da articulação.

Agredida por usar short curto
A vítima conta que as ameaças começaram na quinta-feira (16), quando uma das vizinhas subiu no muro da casa dela para xingar os influenciadores que vivem no local. Em seguida, outra moradora do condomínio teria passado pelo imóvel proferindo agressões verbais.

“A gente acordou com ela gritando em cima do muro da nossa casa, dizendo que a gente era vagabundo, que não queria esse tipo de gente do lado da casa dela. Meu amigo foi falar com ela, ela começou a esculhambar a gente. Depois disso, passou outra mulher aqui de frente, que a gente nem conhece, e começou a me xingar, disse que ia tirar a gente aqui dessa casa”.

“Ela me chamou de vagabunda, disse que eu andava pelada no meio da rua, por causa do short que eu usava. Eu perguntei para ela o que podia fazer para mudar isso. Ela disse: ‘não quero que você use short, não quero que você use esse tipo de roupa no condomínio’. Ela quer definir isso agora? Não tem sentido”, relata.

No outro dia, a mulher voltou para a casa da jovem, dessa vez, acompanhada da filha. Elas iniciaram uma nova discussão por causa do estilo de Ayarla e do trabalho dela como influenciadora, até que as agressões começaram, de acordo com o relato da vítima.

“A gente passou uma hora tentando resolver com ela, ver se ela se acalmava, porque ela estava muito alterada. Estavam ela e a filha dela. Eu subi, porque não aguentava mais ela falando a mesma coisa. Ela disse: ‘desce aqui, desce aqui’. Eu desci e ela começou a me agredir. Veio para cima de mim, jogou a sandália em mim. Aí eu também avancei, porque não ia apanhar, né?”.

Ela diz que também teve acesso a um grupo de moradores, que teria sido criado pelas agressoras, em um aplicativo de conversas. Nas mensagens, fotos da influencer são compartilhadas com acusações de que ela seria “atriz pornográfica”.

Ayarla é da Paraíba e mora em São Paulo há três meses, desde que recebeu o convite de um empresário interessado em investir em sua carreira. Ela mora na mansão com outros oito produtores de conteúdo. Cada um tem seu próprio canal, mas eles também gravam vídeos juntos sobre a rotina na mansão.

Atualmente, a jovem tem mais de 2 milhões de seguidores em uma rede social e seus vídeos somam quase 10 milhões de curtidas. "Se continuarem ameaçando a gente, a tirar a gente daqui, eu também não sei o que vai acontecer. Não sei se a gente vai continuar nessa casa. A gente não quer se mudar, mas querem tirar a gente daqui. Estão dizendo que vão fazer de tudo".

De acordo com o advogado dela, mesmo que o material gravado fosse destinado ao público adulto, os vizinhos não teriam direito de impedir, desde que ela não os expusesse, ofendesse explicitamente ou perturbasse o sossego.

“Isso tudo se deu da atividade profissional dela. Ela grava vídeos, a casa tem uma piscina. A Ayarla, como moradora, tem o direito de usar o imóvel desde que ela não atrapalhe o convívio de outras pessoas. O fato de ela gravar o vídeo dentro da casa, seja o vídeo de qual natureza for, ela tem direito de gravar, postar e fazer o que ela quiser”, explica Fábio.

Depois do ocorrido, ele relata que o condomínio também passou a impedir que a influenciadora receba visitantes. Fábio ainda questiona o posicionamento do residencial, que acusa a jovem de estar usado a mansão para fins comerciais.

“Se você tem um inquilino, dentro do condomínio, ele está regularizado, com seu contrato de locação em dia, ainda que não estivesse, ainda que estivesse com 14 meses de aluguel atrasado, com 14 meses de condomínio atraso, mesmo assim, o condomínio não pode proibir a entrada de pessoas liberadas por ela”.

“É uma casa residencial, ela recebe os amigos, que também são influenciadores digitais. Eles vêm para trabalhar. Um paralelo que eu faço é: eu sou advogado, eu não posso ter um escritório dentro de casa para trabalhar? A costureira que trabalha em casa, não pode trabalhar em casa? Será que aquele condomínio não tem nenhum advogado que faça audiências em casa? Qual é a diferença?”

Fábio Costa afirma que devem entrar com uma ação cível, com pedido de indenização por parte da agressora. A vizinha que teria xingado Ayarla e os amigos também deve ser acionada judicialmente, bem como o condomínio. “A única pessoa que pode pedir para que ela saia do imóvel é o proprietário. Ele me ligou ontem e disse que enquanto eles estiverem morando, pagando e cumprindo o contrato, ele não se opõe a nada”.

O G1 tenta localizar os responsáveis pelo condomínio.