Parte de relacionamento humano é a mais desafiadora da vida em condomínio
Sônia Malagrici já viveu momentos tensos como síndica há 20 anos de um prédio no Flamengo. O pior deles foi ter apartado uma briga entre moradores, em que a vítima acabou sendo seu óculos de grau, espatifado no chão. O motivo da celeuma foi um vazamento em que as partes se culpavam.
- O porteiro chamou a polícia e queriam me levar para a delegacia para ser testemunha - relembra ela.
O caso vivido por Sônia faz parte do dia a dia dos prédios. Barulho, cachorros e obras estão no topo do ranking das reclamações levantadas pelo Departamento Jurídico do Sindicato da Habitação do Rio (Secovi Rio), baseado em consultas feitas por síndicos, moradores e outros gestores condominiais.
- As pessoas têm a falsa premissa que dentro do seu apartamento podem fazer o que quiser. Mas não é bem assim. Quando os moradores compram um apartamento, estão preocupados com a localização e esquecem de identificar se as regras que disciplinam o condomínio são adequadas ao seu estilo de vida - lembra o vice-presidente de Assuntos Condominiais do Secovi Rio, Alexandre Corrêa.
O professor André Luiz Junqueira, autor do livro "Condomínios - Direitos e deveres" e especialista em negociação pela Universidade de Harvard, afirma que, apesar de tantos problemas, a grande maioria não toma medidas jurídicas para resolver. Ele fez uma pesquisa com cerca de 300 casos que chegaram ao seu escritório nos últimos anos.
- Mais da metade não procura a Justiça pelos mais variados motivos: o morador acredita que a culpa é do síndico ou não age pela ideia de impunidade do judiciário. O reclamante limita- se a falar com síndico ou manda notificação para administradora. Dos outros 50% que entram com ação, apenas 15% chegam a um acordo amigável - explica ele, que observa ainda que os problemas entre vizinhos têm aumentado ano a ano:
- A realidade é viver cada vez mais próximo. Hoje, os condomínios de casas são minoria. Com muita gente vivendo em espaços pequenos é difícil não ter problema com vizinhos- diz.
Outros pontos fortes de atrito nos condomínios são as vagas na garagem, traquinagens das crianças e vazamentos. De acordo com o gerente do Núcleo de Consultores da Apsa, Valnei Ribeiro, no caso dos carros, deve estar previsto na convenção se as vagas são numeradas e/ou demarcadas.
- O primeiro passo é notificar, orientar. Se voltar a acontecer, é caso de multa - diz Valnei.
No que se refere às crianças, o respeito aos locais das brincadeiras é a reclamação mais frequente.
- As regras devem constar no regimento interno, mas o síndico deve divulgar as que regulamentam cada espaço.
Em relação aos vazamentos, os ocorridos em áreas comuns são de responsabilidade do condomínio. Quando a infiltração vem do encanamento horizontal, que tem a função de ligar cada apartamento à coluna, a responsabilidade é dos moradores. Num vazamento vindo do apartamento de cima, o primeiro passo é avisar o vizinho e aguardar até dez dias para que o reparo seja feito. Se nada for feito, o síndico pode multar o morador.