Caso de homofobia em Joinville ganha repercussão nacional

Bilhete homofóbico foi deixado por vizinho embaixo da porta do apartamento onde vive o casal

Uma situação de homofobia vivenciada por um casal de Joinville ganhou repercussão nacional no último fim de semana. Eles receberam um bilhete deixado embaixo da porta de casa por um vizinho do condomínio onde moram. Na carta, o vizinho escreveu que o condomínio é um local de família e que teve de explicar para o filho pequeno o porquê de ver dois homens andando de mãos dados pelo estacionamento do prédio. Após publicações em redes sociais, outros moradores do prédio e milhares de pessoas pelo Brasil demonstraram apoio ao casal. No último domingo (20), o assunto chegou a entrar nos Trending Topics (tópicos de tendência) do Twitter.

Felipe Alves veio de Porto Rico (PR) e mora há seis anos em Joinville. Já o namorado é natural da cidade catarinense. No entanto, eles se mudaram para o condomínio no início de agosto. Em razão da pandemia, o casal ainda não conheceu a maior parte dos vizinhos. No dia 11 de setembro pela manhã, Felipe viu o bilhete deixado embaixo da porta que dizia o seguinte:

"Olá vizinho. O Condomínio Piratuba é um local de família. Respeitamos todas as pessoas e não nos importamos com o que cada um faz dentro de sua casa. Mas essa semana eu tive que explicar pro meu filho pequeno o porquê de dois homens de mãos dadas andando pelo estacionamento. Respeito por favor", registrou o morador sem se identificar.

- Em um primeiro momento eu fiquei indignado, mas quis ignorar a situação, até porque eu tinha medo de que isso motivasse o meu namorado a não querer mais andar de mãos dadas em público ou qualquer coisa do tipo - conta Felipe.

Segundo ele, a situação foi reportada após alguns dias durante uma conversa em um grupo do condomínio.

- Eu aproveitei que estávamos conversando sobre outra situação e me disponibilizei para ajudar a explicar didaticamente ao filho do morador o porquê de dois homens andarem de mãos dadas, já que essa era a solicitação dele na carta. De forma educada, com materiais e linguagem apropriadas para criança. Imediatamente os moradores me apoiaram e repudiaram o acontecido - conta Felipe.

Felipe resolveu fazer uma publicação em rede social que alcançou mais de 300 mil contas. Ele diz, ainda, que o síndico comentou em lista de transmissão que a situação era "infantil" e propôs que os vizinhos conversassem pessoalmente.

- Mas se ele (autor do bilhete) mandou a carta de forma anônima, provavelmente era porque ele não queria conversar - sugere Felipe.

Novamente indignado com a situação, Felipe fez mais uma publicação. A partir disso, segundo Felipe, o síndico se colocou à disposição para redigir materiais para educar os moradores quanto à importância do assunto.

Em 15 anos, situação nunca tinha acontecido

O conjunto habitacional abriga 160 famílias. São oito blocos de edifícios de cinco andares, cada um contendo 20 apartamentos. O síndico acredita que o bilhete tenha sido deixado por um morador do mesmo bloco onde vive Felipe e o namorado, uma vez que o controle de acesso individual é com tags as quais não abrem as portas de outros blocos.

- Foi lamentável que, após 15 anos convivendo em harmonia, tivemos, pela primeira vez, um caso de intolerância como este. O condomínio é um lugar de pessoas pacíficas e isto destoa da rotina habitual. Tanto é que os moradores imediatamente repudiaram o ocorrido tão logo tomaram conhecimento - reforça o síndico.

Repercussão e solidariedade

Jornais com repercussão nacional abordaram o assunto, além do alcance por meio das redes sociais. Para Felipe, a situação é triste, mas o apoio que eles têm recebido após o acontecido os deixam felizes. Vizinhos chegaram a pendurar bandeiras nas janelas em apoio ao casal.

- Recebemos muitas mensagens de apoio de pessoas que não são LGBT. Bem em frente ao meu apartamento um vizinho pendurou uma bandeira em sinal de solidariedade, mesmo ele não sendo LGBT - destaca Felipe.

Ele reforça, ainda, que o que todos querem é respeito.

- Já passamos por preconceito na rua, em mercado, em comércio... Agora, dentro da própria casa fica difícil, né? Lutamos tanto para conseguir independência porque, muitas vezes, também não encontramos apoio na família. Aí, quando conseguimos, passamos por esse tipo de situação. É triste - desabafa.