Problemas da convivência

Reclamações de barulhos em condomínios chegam a dobrar durante pandemia

Síndica do condomínio Viva Mais, em São Caetano, registrou 60% de aumento nas reclamações (Foto: Reprodução/Street View)
Durante o período de isolamento social, a convivência entre condôminos ficou mais difícil, já que a maioria dos moradores fica mais tempo em casa, e muitos em home office. Com as escolas fechadas, barulhos causados por crianças têm sido o principal alvo de reclamações, bem como latidos e uivos de cachorros. De acordo com síndicos do ABC, as queixas aumentaram de 40% a 100% se comparado ao ano passado.

Segundo Gilberto Chuler, síndico em três condomínios de Diadema e vice-presidente da Abrascond (Associação Brasileira dos Síndicos de Condomínios), as reclamações chegaram a dobrar na região em comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com o profissional, o aumento já era esperado e foi intensificado pelas situações adversas vivenciadas durante o isolamento social. “O mais comum são as reclamações de barulho depois do horário permitido, principalmente causados pelas crianças que estão sem aula durante a pandemia”, conta.

Com muitas famílias que passaram a trabalhar no modelo home office, as queixas se tornaram mais frequentes, já que os moradores requerem de mais concentração e silêncio durante o expediente. “Já ocorreu várias confusões, as pessoas estão com os nervos à flor da pele. Além de síndico, precisamos ser intermediadores, psicólogos e ter jogo de cintura para chegar a um acordo entre as partes”, diz.

A mudança de rotina das famílias, que agora passam mais tempo em casa, também coopera para o surgimento de desavenças, segundo o síndico. “A pandemia alterou os costumes da maioria, pois passaram a dormir mais tarde, por exemplo, e, com os filhos em casa, o barulho de pulos e brincadeiras ficaram mais comuns, o que gera inúmeras reclamações”, aponta. Para amenizar os conflitos, Chuler diz que é preciso empatia entre os condôminos. “Precisamos pensar que todos passam por um momento adverso, e que talvez, a sua rotina também atrapalhe os vizinhos”, diz.

Para a síndica Jaqueline Nogueira, que atua no condomínio Conjunto Vivamais, em São Caetano, foi possível observar aumento de 60% nas queixas em relação ao ano anterior. “As principais são barulhos provenientes dos apartamentos, desde pulos a corridas, e som além do volume permitido”, diz. A profissional conta que latidos de cachorros também foi alvo de muitas reclamações. “As pessoas estão mais sensitivas ao barulho, então percebe–se o que não ouvia antes, ou não chamava tanto a atenção”, conta.

Para resolver, a síndica conta que aposta em muita conversa e, caso ainda não seja suficiente, a tomada de providências. “Pedimos revezamento nas brincadeiras das crianças, para outros poderem estudar e trabalhar. Alguns entendem, já outros acreditam que o síndico impõe limites as crianças”, relata. Em relação aos cachorros, os condôminos foram proibidos de deixá-los preso na sacada do apartamento, para evitar maiores transtornos.

A veterinária Silvia Migoto, que reside no mesmo condomínio, relata que a mudança no temperamento dos pets é ainda mais visível durante o fim de semana, já que desacostumaram a ficar sem a companhia dos seus donos. “Antes os animais não eram acostumados a ficar o dia inteiro com gente em casa, por isso, agora quando os donos saem durante o final de semana, eles estranham e se manifestam com uivos e latidos”, diz.

Outra questão apontada pela moradora é a falta de tolerância entre os condôminos. “Percebi que muitos moradores que não costumavam ficar em casa, passaram a reclamar até mesmo de barulhos permitidos durante o dia. Eu mesma nunca tive problemas com os vizinhos, mas agora é possível notar comportamentos que incomodam”, diz.

Jisele Redondo de Oliveira, síndica do condomínio Flex Manoel de Nóbrega, em Diadema, também destaca o barulho proveniente do cotidiano de casas com crianças como o principal motivo para o aumento de 40% das queixas no local. “Barulhos que antes não eram ouvidos porque as pessoas trabalhavam fora, se tornaram motivo de reclamação agora”, ressalta.