Bem-estar para todos

Construtoras e incorporadoras investem cada vez mais para que a acessibilidade ultrapasse os recursos físicos e os condomínios se tornem um local sem obstáculos

 

Pouca gente sabe, mas as normas de acessibilidade não se restringem apenas às pessoas com deficiência. O direito à locomoção e bem-estar se estendem para idosos, grávidas, obesos e outros condôminos com mobilidade reduzida ou que necessitem de atenção. “Mais do que obedecer regras e normas, quando um condomínio oferece todos essas ferramentas de apoio, o espaço se torna mais harmonioso e empático”, frisa Leonardo Mota, vice-presidente das Administradoras de Condomínios da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG).

As normas de acessibilidade são obrigatórias em todos os espaços, edifícios, mobiliário urbano e equipamentos projetados, construídos, montados ou implantados para que sejam considerados acessíveis. O Decreto federal 5.296, de dezembro de 2004, disciplinou as regras de construção para a execução de projetos que atendam a essa demanda.

Marcos Paulo Souza, diretor técnico da PHV Engenharia, comenta que todo condomínio novo deve ser construído já garantindo a acessibilidade de seus moradores e visitantes. Já em prédios antigos é importante a realização de uma análise técnica no condomínio para que se conheçam quais as obras viáveis e que não atingirão a estrutura do prédio.

“É aquela de que somos todos iguais, o direito de acesso tem que estar disponíveis para todos. Independentemente da obrigatoriedade das leis, é necessário buscar a funcionalidade dos espaços além dos critérios da legislação”, frisa.

De acordo com o CEO da Emccamp Residencial, André Campos, essas normas preveem o dimensionamento necessário para pessoas com necessidades especiais, não somente os cadeirantes. Ele cita situações como ter um pavimento regular, rampas de acesso com corrimão e piso tátil.

“Dentro ou fora dos apartamentos, as portas de acesso devem ser instaladas para um fácil acesso de cadeira de rodas, andadores e carrinhos de bebê, por isso a largura mínima de 80cm. Além das descrições em braile nos interfones e a reserva de vagas indicadas por lei”, afirma o CEO. Ele ressalta que quando compramos um imóvel, temos a pretensão de permanecer nele durante toda a vida. Porém, essas condições podem afetar a vida de qualquer um. “É preciso pensar à frente e trazer esse conforto, mesmo custando mais”, frisa Campos.

Todo projeto de novos empreendimentos deve estar pautado em tornar a vida de todos mais prática. “Quando se fala dessa preocupação com equipamentos ou construções acessíveis são itens que passam por toda a funcionalidade do projeto. Seguindo a lei, e até aumentando os pontos de apoio para uma boa solução de projeto, pensando nos mais diversos públicos e abrangendo sempre além das pessoas com deficiência”, aponta o diretor técnico da PHV. Pequenas modificações fazem toda a diferença, segundo Marcos Paulo.

“Seja uma maior abertura das portas sem dificuldades de entrada para cadeiras de rodas ou até uma maca, traz uma maior sutiliza ao projeto. É importante pensar, também, na otimização dos espaços e na integração dos ambientes com ligações diretas e sem degraus”, conclui.

AINDA NO PROJETO

Em muitos empreendimentos, o acesso às áreas comuns, como piscina, academia e salão de festas, é dificultado, tornando esses espaço inviáveis para o uso. Por isso, é importante pensar em acessibilidade em todas as fases do projeto. Potencializadas, essas ações também são uma forma de criar empatia com demandas e anseios, que muitas vezes são negligenciados em certos ambientes. “Afinal, quem não quer trabalhar ou morar em um prédio que seja mais humano com o outro? Todos os condomínios deveriam transmitir essa confiança e respeito para quem vive ali, independentemente de legislação”, pontua Leonardo Mota.

André Campos ressalta que muito além do projeto e das normas, que nem todo mundo cumpre, é preciso pensar no usuário final. “Um foco real na pessoa que nos confia a sua moradia. Como será o dia a dia, o lazer, como vai se dar o deslocamento, quais são as necessidades, sempre pensando em um desenho universal que atenda todos”, finaliz

* Estagiário sob a supervisão da editora Teresa Caram

SETE PRINCÍPIOS DA ACESSIBILIDADE

Princípio igualitário ou do uso equiparável

  • Princípio do adaptável ou do uso flexível
  • Princípio do óbvio ou do uso simples e intuitivo
  • Princípio do conhecido ou da informação de fácil percepção
  • Princípio do seguro ou do tolerante ao erro
  • Princípio do sem esforço ou do baixo esforço físico
  • Princípio do abrangente ou da divisão e espaço para aproximação e uso

DESENHO UNIVERSAL

A concepção do termo de desenho universal se desenvolveu por profissionais da área de arquitetura na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. O estudo tinha como objetivo categorizar um projeto de produtos e espaços para serem usados por todos, sem necessidade de adaptação ou projeto especializado para pessoas com deficiência. Em um processo de criar produtos que sejam acessíveis para todos, independentemente de suas características pessoais, idade, ou habilidades.

Os produtos universais acomodam uma escala larga de preferências e de habilidades individuais ou sensoriais dos usuários. A meta é que qualquer ambiente ou produto poderá ser alcançado, manipulado e usado, independentemente do tamanho do corpo do indivíduo, sua postura ou sua mobilidade.