O condômino que constrói irregularmente em área comum do prédio, em desacordo com a convenção condominial, fica sujeito a demolir sua obra, a qualquer tempo, mesmo que por muitos anos, o condomínio não tome nenhuma providência a respeito
Lição nesse sentido, pode ser auferida de aresto do Tribunal de Justiça de São Paulo, ao julgar ação de obrigação de fazer cumulada com pedido cominatório motivada por edifício contra o proprietário que invadiu parte da área comum ao ampliar lavanderia de sua unidade autônoma.
A decisão na apelação cível (n.,244.338-4/7) foi relatada pelo desembargador Américo Izidoro Angélico, um especialista em questões imobiliárias. Segundo o relato do magistrado, a construção feita pelo proprietário invadiu em 1,30m o recurso lateral esquerdo (área comum) do edifício apelado.
O acréscimo de construção, feito na década de 1960, e sua irregularidade foram previamente constatados em medida cautelar antecipatória de prova técnica, com laudo pericial conclusivo, em que o condômino pode se manifestar.
Portanto, diz o relator, “comprovado acréscimo de construção não autorizado e não constante do título de aquisição das apelantes, e não ocorrendo eficaz contraposição ao direito do condomínio autor, de ver demolida a obra irregular feita, ademais, em área comum, o decreto da procedência da ação, no tocante a esse pedido, era mesmo de rigor.”
Dois outros pontos foram tocados pelo acórdão do TJSP, quanto a autorização da assembléia para mover a ação demolitória e quanto à prescrição, invocada pelo proprietário, diante do longo lapso temporal de inércia do condomínio antes de mover a ação.
Sustenta o relator: “Não se releva, outrossim, necessária a aprovação em Assembléia para o pedido demolitório da construção irregular em área comum, visto que flagrantemente em desacordo com a Convenção que rege a vida condominial , devendo ser propriamente corrigida pelas vias próprias.”
A respeito da perda do prazo para agir, sentenciou: “A questão da alegada prescrição no tocante ao pedido de demolição igualmente não se sustenta, já que se trata de uso ilegítimo de área comum, que nunca se convalida, nem pelo decurso de tempo, nem pelo conhecimento do fato, insusceptível até mesmo de usucapião.”
Não obstante a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo tenha mantido a sentença do juiz de primeiro grau e garantido ao condomínio o direito de mandar demolir a construção invasora apesar do tempo decorrido, é recomendável que, se ocorrer problema semelhante, os síndicos tomem providências o quanto antes.
Note que, no caso revelado, o condomínio notificou o proprietário, realizou produção antecipada de prova, com direito ao contraditório, e só então moveu a ação demolitória.
Em muitos condomínios há irregularidades semelhantes, para as quais o síndico faz vista grossa. Em caso de omissão, qualquer condômino poderá tomar a iniciativa de exigir a regularização, invocando o poder da Justiça (Código Civil, art. 1.350,§2º,por analogia).
A íntegra do acórdão está disponível no BDI – Boletim de Direito Imobiliário, edição do 3º decêndio de março/2007, e também no sítio do TJSP.
Por Luiz Fernando de Queiroz – Advogado Especialista em Direito Imobiliário