Horta comunitária no condomínio cria opção de alimentação saudável
Plantar e colher hortaliças cultivadas perto da moradia parece cenário de cidades do interior baiano. No entanto, entre os prédios e as estruturas de concreto dos condomínios da capital, a horta comunitária surge como alternativa de consumo alimentar saudável e interação entre os moradores.
No começo do ano, o biólogo Thiago Porto, morador do Condomínio Morada Alto do Imbuí, reuniu-se com os vizinhos e implantou uma horta dentro do seu condomínio, localizado no Imbuí.
"Hoje temos nossa área de hortaliças. Nossa produção é 100% orgânica, em pequena escala, e é suficiente para suprir o grupo de moradores que se responsabilizaram pelos cuidados do espaço", diz Porto.
Para a obtenção de espaço no condomínio, a área de um galpão desativado foi reaproveitada. Hoje, o local abriga as hortaliças, frutas, ervas medicinais e plantas ornamentais doadas pelos moradores. Quando a produção passa da capacidade de consumo dos cuidadores da horta, os alimentos são levados até a portaria e ficam disponíveis para os demais vizinhos.
"Com a horta, criamos uma nova área de lazer para o condomínio, aumentamos a interação entre vizinhos e melhoramos nossa alimentação com os produtos orgânicos. Além desses fatores, existe a questão de termos realizado uma destinação mais adequada para parte da matéria orgânica que seria descartada no lixo comum", conta Porto.
Além dos ganhos para a saúde, os moradores do Alto do Imbuí passaram a organizar feiras semanais com os alimentos da horta. Nelas, são colhidos tomates, cenouras, entre outras hortaliças. Em um pequeno pomar, perto da horta, ainda são coletadas frutas como laranja, acerola, pitanga, banana e limão.
"A produção não é tão grande assim, mas toda semana consumimos algo que produzimos lá. O prazer de comer o que você plantou é único e todos deveriam experimentar", diz o biólogo.
Regras de implantação
Assim como ocorreu com o projeto da horta do Alto do Imbuí, para se montar uma estrutura do tipo dentro de espaços que são compartilhados, faz-se necessária a aprovação do planejamento nas assembleias gerais de moradores.
"Thiago apresentou o projeto em uma das nossas reuniões de moradores. Após a explicação de como seria montada a horta, todos aprovaram a ideia. Pronto, ficou livre o caminho para se aproveitar o espaço onde plantamos as hortaliças", explica Elaine Graziela, síndica do Alto do Imbuí.
De acordo com os artigos 1.341 e 1.342 do Código Civil, o processo de construção de uma horta no condomínio é caracterizada como obra útil, por isso a maioria simples na assembleia é o suficiente para a aprovação do projeto e a sua implantação no local.
Ainda com base nos artigos, para os casos em que a obra vai ser realizada em um espaço físico já construído e requer alterações ou anexações, o quórum necessário para o aval da horta tem que ser de dois terços dos condôminos.
"Aqui no Alto do Imbuí, o fato de já existir um grupo de moradores engajados com questões que envolvem a sustentabilidade ajudou na ampla aprovação. Depois do resultado da assembleia, foi só organizar as tarefas desenvolvidas pelos moradores que decidiram se integrar ao projeto da horta", conta Elaine.
Localização adequada
Na concorrência com espaços como piscinas e salões de festas, as hortas precisam ser projetadas em lugares onde seja possível ter uma boa incidência solar. Além disso, os moradores precisam ficar atentos com os cuidados que cada tipo de plantação necessita.
Para Saulo Araújo, especialista em gestão ambiental, quando o projeto é alinhado com as características de cada plantio, a horta passa a trazer mais benefícios para os condôminos, já que reduz os riscos de contaminação do solo e disseminação de pragas.
"Para ter uma horta saudável, é importante ficar atento com a terra que vai ser usada, ela precisa ser de boa qualidade. Além disso, utilizar sempre os materiais adequados para o manejo com o solo e manter o ambiente limpo e irrigado", explica Araújo.
Segundo o especialista, estudos ambientais apontam que os alimentos produzidos na cultura orgânica são mais saudáveis e adquirem menos pragas. Como acréscimo aos pontos positivos, a qualidade de vida aumenta com o trabalho desenvolvido na terra.
"O próprio ato de colher já se torna uma terapia. As pessoas que conseguem ter uma horta comunitária em espaços como o condomínio, além de melhorar o hábito de consumo, conseguem colocar em prática atividades raras no cotidiano corrido das grandes cidades", conta o especialista.
Apesar de existirem bons exemplos de hortas comunitárias na cidade que emergiram em condomínios, Araújo reconhece que esse tipo de iniciativa ainda é tímida e precisa de maior apoio das pessoas.
"Acredito ser essencial a divulgação desse tipo de estrutura nos condomínios. No cenário de empreendimentos imobiliários que buscam "estreitar" espaços físicos, vale mostrar a importância de se abrir vaga para a horta", diz.