Moradores já foram picados por escorpiões. Prefeitura afirma que terreno pertence à CDHU.
Há cerca de um ano, os moradores de um condomínio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), no Parque Dourado, em Ferraz de Vasconcelos, passaram a receber visitas indesejadas. São escorpiões, aranhas, entre outros animais peçonhentos que, inclusive, já picaram moradores. No início de março, o medo aumentou com o surgimento de duas cobras-corais.
Uma moradora fotografou uma cobra pendurada no corrimão. A suspeita é que o problema seja causado pelo mato alto em um terreno da área externa. A Prefeitura informou que a ára pertence à CDHU e, por isso, não pode realizar limpezas. Segundo a CDHU, um fiscal foi ao local para fazer uma vistoria (confira a nota completa no final da reportagem).
O problema começou com o surgimento das aranhas, segundo a moradora Gisselly Baldan Soares Donato. Ela, que é uma das responsáveis pela limpeza do condomínio, diz que o mato começou a crescer no terreno que envolve a área externa e, logo, encontrar essas visitantes indesejadas se tornou comum. "Eram aranhas enormes. A gente puxava o vaso de planta para varrer e flagrava elas escondidas", afirma.
Já incomodada, Gisselly conta que a preocupação aumentou quando os escorpiões começaram a aparecer no decorrer do último ano. Logo o condomínio estava infestado. "Eu tenho três crianças, então a gente fica com medo. Já capturei vários escorpiões. São milhares. Tenho potes com insetos mortos. Estou colecionando".
Vítimas
Além de assustar, os bichos também já fizeram vítimas, como foi o caso da empresária Renata Antonia da Silva, que foi picada em outubro.
“Eu estava dormindo. Era mais ou menos 1h. Senti algo andando no meu rosto. Até pensei que fosse uma abelha", conta. "Quando meu marido ligou a luz, eu estava com picadas na mão e no rosto. O escorpião estava morto no chão".
Renata precisou passar a noite no hospital, onde foi medicada e recebeu anestesia para aliviar as dores. "A picada do escorpião dói demais.
O médico disse que, se for em criança, ele mata. A gente fica preocupado. Eu tenho um filho de 8 anos. Sou adulta e consigo me defender, criança não".
Uma idosa de 61 anos, mãe da moradora Regina Srefreyesleben, também foi picada por um enquanto dormia. "Era de madrugada e minha mãe estava dormindo. Ela sentiu algo grudar no braço dela e, no susto, bateu para espantar. Ela gritou de dor. Quando fui no quarto e acendi a luz, o escorpião estava morto no chão", comenta a moradora.
"Tivemos que chamar o Samu [Serviço Móvel de Urgência]. Ficamos muito preocupados, porque ela é idosa e tem sopro no coração. Minha mãe teve muita sorte. O corpo dela não reagiu tão mal. Ela tomou um remédio, ficou bem, mas a pressão aumentou muito".
Perigo para as crianças
Para a moradora Lilian Lúcio César, encontrar insetos dentro de casa faz parte da rotina. Ela mora no térreo e seu apartamento fica de frente para o mato e diz que a vegetação, de tão grande, já toma a área interna do condomínio.
Assim como Gisselly, a dona de casa tem filhos pequenos, o que aumenta sua preocupação. "Eu tenho quatro crianças pequenas, sendo que um, de 3 anos, é deficiente. Ele tem má formação congênita, não tem noção do perigo. Já flagrei meu filho brincando com aranha", comenta.
Lilian diz que o incômodo da infestação só piora. Segundo a moradora, seus filhos estão desenvolvendo traumas. “Graças a Deus, os meus filhos nunca foram picados, mas eles estão traumatizados", lamenta. "Eles têm pesadelos. Acordam de madrugada gritando, com medo, porque acham que tem bicho andando em cima deles. Qualquer barulho, já pensam que é escorpião. Vão para a escola cansados de manhã porque não dormiram bem de noite”.
Cobras
No início do mês de março, as preocupações de quem vive no local foram além, como explica Brunna Silva Moraes. "Estávamos acostumados com os escorpiões, aí começaram a aparecer cobras coral. Já foram duas", explica a moradora.
A dona de casa Lilian lembra que presenciou quando uma das cobras foi encontrada. “Quando apareceu a cobra, tava muito calor e tinha muita criança brincando do lado de fora, perto da escada. Foi um susto enorme para eles. Começaram a gritar, chorar".
Com a grande quantidade de crianças no condomínio, os moradores temem que novos animais peçonhentos apareçam e ofereçam riscos, além disso eles pedem ajuda, pois, sozinhos, não conseguem eliminar a infestação. “É muito bicho. A cobra mesmo, foi achada 19h. Passam muitas crianças ali quando voltam da escola”, diz Brunna.
Os moradores dizem que o terreno causador do problema pertence à Prefeitura mas, mesmo após registrarem reclamações, o local continua sem receber limpezas. O mato está crescendo e, com isso, o espaço contribui para a reprodução dos insetos.
“A Prefeitura diz que não é obrigação deles e mandam a gente falar com a CDHU. Já a CDHU diz que é responsabilidade da Prefeitura, a gente não sabe mais para quem recorrer”, comenta Lilian. “Pelo que a gente sabe, há uns três anos, a Prefeitura cedeu um caminhão para que os moradores fizessem limpeza desse terreno".
Ela ainda diz que, em uma das reclamações, os moradores ouviram que são culpados pela infestação, pois vivem no habitat natural dos insetos. "Às vezes, a Vigilância Epidemiológica aparece aqui e diz que invadimos o espaço dos escorpiões. Mandaram a gente comprar galinha da angola, que come eles, e se virar. Não temos culpa se foi construído onde não devia", conclui a moradora.
A Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos informou que o terreno em questão, onde o mato está alto, é particular, próprio da CDHU. Sendo assim, a Prefeitura não pode entrar para realizar a limpeza. De acordo com a administração municipal, a Secretaria Municipal de Obras Públicas já notificou o proprietário para que a limpeza fosse feita, e o próximo passo é aplicar a multa se o serviço não for realizado.
Em nota, a CDHU informou que vistoriou o local nesta sexta-feira (17) para checar a extensão dos problemas e irá contratar uma empresa para a limpeza e corte de mato no terreno, que vai realizar os serviços em 30 dias.
Em relação à reclamação de aranhas, escorpiões e cobras coral, cabe ao condomínio de moradores adotar providências para resolver o problema no interior do residencial. A Regional da Região Metropolitana de São Paulo está à disposição para demais informações pelo telefone (11) 3367-8000.