Uso de crachá por domésticas de prédio provoca polêmica

Exigência foi aprovada em assembleia de moradores do condomínio, diz síndica

A decisão da síndica de um condomínio do bairro São Bento, na região Centro-Sul da capital, de exigir o uso de crachás pelas empregadas domésticas tem gerado descontentamento em alguns moradores.

A medida, que, segundo ela, é para garantir a segurança do local, é aprovada por outros. A questão, para os que discordam, é que, assim como qualquer outra pessoa que frequente o lugar, as domésticas são autorizadas pelos proprietários de apartamentos e já se identificam aos porteiros. O uso será cobrado a partir de segunda-feira.

O diretor de teatro Pedro Paulo Cava, 66, acredita que a determinação é uma invasão de privacidade e uma medida discriminatória.

“Será exigido crachá de visitas que forem a uma festa feita por qualquer morador? As empregadas são autorizadas por nós e se identificam ao entrarem, assim como qualquer pessoa. Por que o uso do crachá é exigido apenas para elas?”, questiona.

Cava conta que sua doméstica não quer usar a identificação e chegou a dizer que não voltaria ao local. “Ela é muito politizada e tem razão. Eu não quero perdê-la, além de achar que não se pode culpar uma categoria por um problema de segurança”, conclui.

A questão divide opiniões, e, para o engenheiro mecânico Cláudio Lopes, 58, qualquer medida que seja para garantir a segurança é bem-vinda. “Na pessoa que está na minha casa, eu confio completamente. Não é questão de desconfiar de quem já está aqui e identificado, é de quem não está”, aponta.

A síndica do condomínio, Solange Martins, explica que o residencial é amplo, e que muitas pessoas circulam pelo local. “Já tivemos um episódio de domésticas tentando entrar aqui fora do horário de serviço. É uma forma de termos algum controle”, alega.

A medida foi criada, segundo Solange, na gestão anterior. Ela assumiu o posto em abril e explica que a norma vale também para passadeiras, babás e enfermeiras.

Estrutura

Condomínio. O residencial fica no bairro São Bento, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, tem 288 apartamentos, quatro torres e mais de mil moradores. São quatro porteiros.

Medida deve estar em convenção

O uso do crachá pelas empregadas foi aprovado em assembleia, com a participação dos moradores, conforme a síndica do condomínio, Solange Martins. Segundo o presidente da Comissão de Direito Sindical da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB- MG), Bruno Reis, a medida deve estar prevista na convenção do condomínio.

“A legalidade de um processo como esse depende da convenção e da assembleia do condomínio. É uma questão polêmica, mas, a princípio, não vejo como injúria ou discriminação, se isso for uma norma para todos os funcionários do local”, explica. (BF/Jhonny Cazzeta)