Defesa Civil interdita dois prédios na Praia do Futuro

Principais danos na estrutura dos prédios eram fissuras, infiltrações, ferragens expostas e corroídas; ação ocorreu após denúncia de um morador de um dos imóveis

Após a denúncia de um morador do bairro Praia do Futuro, o imóvel em que ele mora acabou sendo interditado pela Defesa Civil de Fortaleza depois de uma vistoria que constatou nível elevado de danos na estrutura do prédio. No momento da fiscalização, os técnicos do órgão municipal perceberam que os imóveis residenciais do entorno tinham danos semelhantes ao primeiro. Foi instaurada uma operação que vistoriou mais 26 prédios do bairro, interditando uma outra construção residencial.

“Os agentes quando foram ao local perceberam na vizinhança várias edificações com o mesmo método construtivo, aparentemente com a mesma idade de construção, mesmo modelo das edificações. Então acendeu um alerta pra gente que outras edificações poderiam também estar com os mesmos problemas que essa edificação que foi interditada apresentava”, relata Régis Tavares, coordenador da Defesa Civil de Fortaleza.

Das 26 edificações vistoriadas durante o mês de julho de 2021, oito já faziam algum tipo de obra de manutenção. No entanto, no prédio interditado foi constatado risco iminente de desabamento. As famílias foram orientadas a deixar suas casas e voltar apenas após as reformas necessárias. Apesar disso, Régis explica que a evacuação não é obrigatória e que nenhuma família decidiu sair do imóvel.

Segundo o coordenador, o prédio não tem síndico responsável, nem condomínio constituído formalmente. Portanto, foi necessário acionar o Ministério Público do Ceará (MPCE) para chegar a um acordo com as famílias extrajudicialmente e organizar a contratação de uma empresa que faça as reformas urgentes.

“Se realmente os moradores não se conscientizarem do risco ao qual eles estão expostos e da necessidade de intervenções, aí infelizmente o caminho é o da Justiça mesmo. A gente tenta esgotar as possibilidades extrajudiciais primeiro”, diz Régis.

A reportagem pediu o endereço dos prédios à Defesa Civil, mas o órgão afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que não podia atender ao pedido. Também foi solicitado o contato do síndico responsável pelo primeiro prédio para uma entrevista, mas ele não quis falar com a reportagem, de acordo também com a assessoria do órgão municipal.

Danos são piorados pela maresia

De acordo com a Defesa Civil, todas as edificações tinham danos parecidos, chamados de patologias. Os principais eram fissuras, infiltrações, descolamento de cerâmica da fachada, ferragens expostas e corroídas pela alta salinidade do local.

“Quando a gente está falando de ferragens expostas e corroídas, infiltrações e rachaduras, a gente está falando de comprometimento da estrutura de sustentação da edificação. Então é uma preocupação maior. A estrutura fica instável e há risco dela vir a colapsar”, diz Régis.

Emanuel Mota, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-Ce), explica que as estruturas de edificações da Praia do Futuro recebem constantemente a umidade do mar e a salinidade. Essa umidade acaba aumentando o desgaste natural do concreto dos imóveis, que ficam porosos com o tempo, e passam a oxidar a armadura de aço contida dentro da estrutura.

“Essa oxidação aumenta o diâmetro do ferro em até oito vezes. E isso gera umas fissuras no concreto que só favorecem ainda mais o processo de oxidação, porque aí vai entrar também a água da chuva”, descreve.

Manutenção é forma de evitar gastos maiores

“A gente tem que mudar a cultura da população para uma cultura de manutenção. Nós brasileiros não somos educados a manter nossos imóveis. A gente tem que se sentir incomodado ao ver um vazamento, ao ver o ferro exposto”, orienta Emanuel Mota.

Régis ainda relata que a maioria das pessoas dos prédios notificados dizem que não fazem as manutenções necessárias devido ao custo alto das reformas. No entanto, as vistorias periódicas e manutenções frequentes são as únicas formas de fazer com que o imóvel não chegue ao ponto de ser interditado.

“Apontar pro condomínio e fazer a comunidade aceitar que [a reforma] precisa ser feita e que ali não é uma despesa, mas sim um investimento, é o maior desafio do síndico”, diz Marcus Melo, presidente da Associação das Administradoras de Condomínios do Estado do Ceará (Adconce).

Marcus explica que é dever do síndico convocar uma assembleia e expor aos condôminos qualquer tipo de notificação recebida por órgãos como a Defesa Civil. “Muitas vezes não é nem culpa do síndico, porque ele diz o que tem que ser feito e não se faz. E termina chegando ao ponto de interditar o prédio”.

O presidente da associação destaca também que o síndico pode ser responsabilizado civil ou criminalmente por negligência com a manutenção do prédio. Por isso, ele orienta que o profissional “chame imediatamente engenheiros e empresas corretas para dar um laudo” dos danos quando o prédio é notificado pela Defesa Civil.

Denúncias

Para acionar a Defesa Civil de Fortaleza, qualquer cidadão pode entrar em contato com a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) pelo número 190.