IGP-M tem a maior alta desde a criação do real e influi no aluguel

Variação do IGP-M em 12 meses, indicador usado para corrigir contratos de locação, é a mais elevada dos últimos 25 anos. Especialistas, porém, recomendam a proprietários de imóveis e inquilinos que negociem reajustes mais razoáveis

O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), usado no reajuste de grande parte dos contratos de aluguel, acelerou para 4,1% em maio, após ficar em 1,51% em abril. O indicador já acumula avanço de 14,39% no ano e de 37,04% em 12 meses. Essa é a maior alta em 25 anos, desde o Plano Real. Para especialistas do setor imobiliário, o desempenho do IGP-M pode interferir negativamente não apenas no bolso de inquilinos e proprietários, mas também afetar as taxas de desemprego e o crescimento da atividade econômica.

“Um aumento brutal nos custos pode provocar uma onda de imóveis fechados, tanto residenciais quanto comerciais, principalmente os alugados por pequenos e médios empresários do setor de serviços, levando à dispensa de empregados e ao fechamento de negócios”, avalia Maria Eugênia Cortez, especializada em direito imobiliário e sócia do Cortez Advogados.

Na avaliação da advogada, a saída é a negociação entre as partes, levando em conta o momento de crise sanitária. “Isso é o que normalmente acontece. Poucas negociações chegam ao Judiciário. E mesmo quando chegam, o juiz tende a levar em consideração os preços de mercado e a capacidade de pagamento do locatário, a não ser nos casos em que os valores pagos estão muito baixos. Uma coisa é o que está no contrato, outra coisa é a vida real”, ressaltou Maria Eugênia.

Marcus Araújo, presidente e fundador da Datastore, empresa especializada em pesquisas para o setor imobiliário, assinala que os agentes desse mercado já chegaram à conclusão de que o IGP-M não será repassado. “Está sendo aplicado o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que acumulou alta de 6,17% nos últimos 12 meses, ou correções levemente acima”, afirmou. “O bom senso tem que imperar. Perder um inquilino agora, em plena pandemia, pode significar, com raras exceções, mais custos com condomínio e outras taxas”, reforçou.

A advogada Andrea Navarro, sócia da Alario Navarro Soluções por Acordo, destaca que as saídas encontradas nas negociações entre inquilinos e proprietários vão desde a isenção completa de qualquer reajuste para este ano até a troca por um índice com histórico de oscilação mais seguro. Outro caminho, que tem sido mais comum nas redes varejistas, é a manutenção do IGP-M com uma limitação do percentual a ser aplicado — que pode ser, por exemplo, uma média dos últimos anos”, apontou.


Moradora de Teresina, a estudante de fisioterapia Ana Karolline, 26 anos, relata que tem enfrentado dificuldade para bancar o aluguel da moradia e precisa da mãe, de 52 anos, para ajudar nas contas. Ela disse que negociou com o dono do imóvel um preço mais flexível. “O proprietário levou em consideração a crise no país e, nos seis primeiros meses do ano, propôs um desconto de 30% para os inquilinos”, explicou.

Néfi Rossi, corretor de imóveis, 28, mora em Santa Maria (DF). Para ele, o valor atual do aluguel não está justo. “O preço foi mantido durante a pandemia. O correto seria diminuir. O proprietário devia ver a situação do inquilino e saber se ele está podendo pagar o aluguel integral ou não. E negociar com o morador”, disse.

Motivos
A alta do IGP-M tem sido impulsionada, principalmente, pelo aumento nos preços das commodities (mercadorias com cotação internacional). “Em maio, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) avançou 5,23%, sob forte influência dos aumentos registrados para minério de ferro, cana-de-açúcar e milho. Essas três commodities responderam por 62,9% do resultado do IPA”, explicou o economista André Braz, coordenador dos índices de preços da FGV. O IPA compõe 60% do índice geral.

*Estagiária sob a supervisão de Odail Figueiredo