Brinquedos públicos e privados estão interditados para evitar aglomerações. Mesmo assim, espaços precisam de passar por cuidados constantes

Permanecer em quarentena com os pequenos não é tarefa fácil. Que o momento é de cautela, de reclusão e de priorizar a saúde de adultos e crianças, todos sabem. Com o avanço da Covid-19, condomínios, parquinhos infantis, quadras e piscinas estão sem funcionar. A recomendação é que se evite circular com os filhos fora de casa. Quem é mãe ou pai sabe o quão difícil é essa missão.

Depois de tanto tempo sem uso, espaços como os parquinhos precisam de cuidados especiais. É visível e objeto de reclamação a falta de manutenção.

A autônoma Caroline Sousa, 24 anos, viu a situação. Ela costumava levar o filho Murilo Sousa, 6, para o parquinho de crianças na QNN 24/26, em Ceilândia Sul, onde eles moram. Com a pandemia do novo coronavírus, o local está interditado e ela conta com a ajuda das atividades escolares para realizar brincadeiras com o menino.

“Fazemos sempre as opções que o colégio do Murilo oferece. Na época das festas juninas, nós fizemos brincadeiras como boca do palhaço, pescaria, bolha de sabão, entre outras”, lembra.

Ela levava Murilo ao parquinho perto de casa, mas agora o local se encontra completamente abandonado. “Não tem manutenção nenhuma. O mato está bem alto e os brinquedos todos enferrujados. Um balanço está remendado. Acho que deveriam ter um olhar mais atencioso para esses espaços”, opinou.

Com o descaso, Caroline disse ainda que dificilmente levará o filho novamente ao parquinho se não houver uma reforma geral na área. “Do jeito que está lá, um simples arranhão pode se tornar algo mais grave”, completou.

Karine Gonzaga, 41, é jornalista e empreendedora. Ela tem um filho de 2 anos, o pequeno Théo. A família reside na 116 Norte e a mãe diz que nunca deixou Théo brincar no parquinho da quadra, justamente por falta de manutenção e cuidados no local.

“Estamos levando a questão do isolamento muito à sério. Quando ele pedia, eu levava para o Noroeste, onde os meus pais moram, ou para a 315 Norte, onde a prefeitura cuida do local. Ele sente muita falta do balanço, mas estamos encontrando alternativas criativas em casa com tinta, bacia com água e plantação de feijão.”

Para a jornalista, a prefeitura da quadra deveria se mobilizar para manter os reparos e a conservação do parquinho de sua quadra. “Tanto a prefeitura como o governo deveriam pensar em algo interessante para manter e fazer essa manutenção ou criar outros parquinhos que atenda aos pais e crianças”, acrescentou.

Normas técnicas, preservação e regras

A reclamação sobre o desgaste dos parquinhos pelo fato de estarem sem uso e a falta de preservação podem causar penalidade para os síndicos de condomínios e até para o governo, no caso dos espaços que são públicos.

Rodrigo Santos Perego, especialista em direito imobiliário e condominial, sócio do escritório Santos Perego & Nunes da Cunha Advogados Associados, afirma que existem normas técnicas e rígidas emitidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), específicas para essa regulamentação. Se não forem cumpridas, caberia ação judicial contra o condomínio.

“Quando a pandemia cessar e retomarmos a utilização dessas áreas, o risco é que possa causar algum tipo de dano, principalmente com as crianças”, afirmou Rodrigo.

“Se acontecer algo e ficar comprovado que não se obedeceu as regras preventivas, quando é uma área privada, quem responde é o sindico. Nos parques públicos, o Estado é o responsável”, explicou.

O advogado diz que é importante que todos assumam os deveres. Qualquer defeito no brinquedo deve ser comunicado ao zelador ou ao corpo diretivo do condomínio, e a interdição deverá ser imediata até a correção do problema.

“A nossa orientação e sugestão é preventiva, e não corretiva. É importante a manutenção nesse intervalo do isolamento social. Tem uma série de situações que podem ocorrer pelo mau estado de escorregadores, balanços, gangorras. Uma delas é sempre verificar parafusos, encaixes, apertos e se os brinquedos estão chumbados de maneira adequada”, finalizou o advogado.

Alternativa

Assim, a pergunta que muitos se fazem é: como distrair as crianças durante este período, que nem sabemos ao certo quanto tempo ainda vai durar, e sem precisar dos parquinhos?

Sem ter onde gastar energia, o isolamento social tem permitido pais descobrirem uma maneira de ocupar os filhos e também de recriar atividades lúdicas para entreter os pequenos em casa.

É o caso da dentista Gabriela Mourão, 35 anos, mãe de Maria Júlia, 4. Ela está transformando em brincadeira até afazeres corriqueiros do isolamento, como as refeições com a família.

“Brinco de pizzaria, quando pedimos pizza, ou de cantina italiana, quando faço um macarrão. Vestimos a Maju de garçonete e ela adora. Brincamos de bandinha com instrumentos de sucata. Até cabaninha com tecidos e lençol no sofá já fizemos”, comentou.

A dentista explicou que a filha é muito agitada durante o dia e quanto mais elas brincam, melhor a noite de sono.

“A casa é pequena, mas também faço com ela a corrida de obstáculos e brincadeira de corda. Assim como para nós, para eles (crianças) também está sendo difícil não manter a rotina do dia a dia. O melhor remédio é a reinvenção. Com a criatividade, estou relembrando brincadeiras da minha infância com ela e está sendo divertido.”