Isolamento em (boa?) companhia

Quarentena tem sido sinônimo de trabalho extra para síndicos, que viram crescer vertiginosamente as reclamações nos prédios

A união faz a força! No entanto, quando o assunto envolve vizinhos nem sempre a frase se aplica. Desconfortos e incômodos cada vez mais vêm tomando o espaço da tranquilidade e paz no “lar doce lar”. Cenário, inclusive, que ficou evidente após o decreto de isolamento social que, por sua vez, também está alterando a rotina de trabalho dos síndicos, que de um mês para o outro viram explodir o número de divergências.

De acordo com Rafael de Souza Assis Santos, sócio-diretor da Office Assessoria, empresa de administração de condomínios, o número de reclamações cresceu 20%. A quarentena mudou a rotina e os hábitos dos moradores dentro dos condomínios e, com isso, um dos principais desafios tem sido controlar os “ânimos”. Segundo Rafael Santos, sócio-diretor da Office Assessoria, a campeã das reclamações está vinculada à perturbação do sossego.

“Muitos estão trabalhando em home office, sendo requerido destes um maior índice de concentração e foco. Por outro lado, com o fechamento das escolas, há uma dificuldade maior dos pais de conter o barulho em sua unidade - união de fatores que aumenta a incidência de reclamações. A pandemia também trouxe dois novos ‘incômodos’: o depósito de calçados no hall e a falta do uso de máscaras na circulação”, revelou Santos.

O diretor orienta que, para casos de transtornos recorrentes, o ideal é que os relatos sejam registrados no livro de ocorrências. “Recorrer ao WhatsApp, ligar para o síndico ou para o porteiro dificilmente são boas soluções. Vale ressaltar que o registro de ocorrência é para quando a pessoa já utilizou-se dos recursos que tinha disponíveis para solucionar a situação”, sinalizou.

Vida do síndico

Para amenizar os problemas, a síndica Alessandra Monteiro, de São José dos Campos, está em comunicação o tempo todo com os condôminos. “Através de informativos e WhatsApp estou constantemente alertando os moradores sobre as regras de convivência e também venho buscando caminhos para tornar este momento mais simples. Estamos vivendo em tempos difíceis, no qual, devemos nos unir e não separar”, compartilhou.

O especialista em direito civil Diego Raimundo, sugere utilizar a prática do bom senso. “É normal que ocorra aumento nos ruídos. No entanto, há casos em que o condômino, sem outras alternativas, pode e deve se socorrer não só dos regulamentos internos, mas também das legislações. Há cidades que possuem regras específicas sobre o tema, como é o caso da lei do silêncio (lei 8940/13), de São José, que impossibilitaria a ocorrência de uma live como a do DJ Alok”, informou Raimundo.

Diversão amiga

A arte tem ganhado destaque nos condomínios. Em toda a região músicos estão realizando shows em suas sacadas como gesto de solidadriedade. Para o vendedor técnico de São José, Gabriel Coura Parada, 24 anos, a iniciativa está sendo um conforto neste momento tão difícil.

“Nosso vizinho Brito é violinista e promove vários shows da sacada do apartamento dele ou na área comum do prédio para que todos possam assistir. É uma ação positiva e que gera relacionamento entre os vizinhos”, disse o jovem. “Eu gosto bastante pois é o momento que temos para esquecer as noticias ruins e nos distrair com a família”, finalizou.