Homenagem seria a um traficante assassinado há um mês em Porto Alegre.

Uma pintura em homenagem à um traficante assassinado há um mês foi feita em um condomínio do programa Minha Casa, Minha Vida no bairro Restinga, Zona Sul de Porto Alegre. No grafite feito na parede do prédio Camila, lê-se "Roger", "uma estrela nunca se apaga", "você foi um vencedor" e "Irmandade para sempre até a morte". A autoria da pintura ainda é desconhecida.

Em abril de 2011, 192 sobrados do Residencial Camila foram entregues a pessoas com renda até três salários mínimos. Foi o primeiro empreendimento do programa em Porto Alegre.

A pichação seria uma homenagem a Roger Pereira Madruga, 27 anos, morto a tiros dentro do carro de um sargento do Exército no último dia 10 de fevereiro na Avenida Campos Velho, no bairro Cristal, também na Zona Sul da capital. O militar Carlos Henrique Lorenzi Bertoletti estava junto, também foi baleado e levado a um hospital.

Roger tinha envolvimento com o tráfico de drogas na região. A 1ª Delegacia do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) abriu um inquérito para apurar o caso. Conforme o delegado Guilherme Calderipe, nesta sexta-feira (11) a pintura foi apagada por uma empresa que se dispôs a realizar o serviço. "Não aparece mais nada", observou.

O policial salientou que o desenho pode se configurar como uma apologia ao crime ou ao criminoso. Testemunhas estão sendo ouvidas para tentar descobrir quem teria mandado fazer a pintura. A intenção é concluir o inquérito nos próximos dias. "A gente não conseguiu falar com síndico, por que não tem situação definida de quem seria. Não ficou bem claro", disse Calderipe.

O delegado Rodrigo Pohlmann, que investigou a morte de Roger, diz que ele era um gerente de uma quadrilha que atuava no tráfico de drogas na região. O criminoso tinha antecedentes por homicídio, tráfico de entorpecentes, furto qualificado, roubo de veículos, receptação, lesão corporal e estupro. “Boa parte do Código Penal”, resume Pohlmann ao G1.

Polícia investigou homenagem semelhante em 2015

Há um ano, a Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar se o grafite feito na fachada lateral do condomínio Princesa Isabel, em Porto Alegre, se enquadrava como delito de apologia ao crime ou ato criminoso. À época, a polícia deu 15 dias de prazo para a Associação dos Moradores do Condomínio Princesa Isabel remover o grafite em homenagem ao traficante Alexandre Goulart Madeira, morto a tiros em janeiro 2015.

Moradores do condomínio, localizado no bairro Santana, não só concordaram como também arrecadaram cerca de R$ 10 mil para fazer o grafite que decorou a fachada lateral do prédio. A pintura fazia homenagem ao traficante conhecido como Xandi, morto por integrantes de uma gangue rival. Além da imagem do traficante, a pintura é acompanhada pela frase “o padrinho general”.

Para o diretor do Denarc, delegado Leonel Carivali, a pintura com o rosto do traficante conhecido como "Xandi", acompanhada pela frase "o padrinho general", fazia uma homenagem ao criminoso e não apenas à figura do bem-feitor do condomínio.

"Não estamos avaliando o quanto ele era bom como pessoa, mas avaliamos que foi feita uma apologia a alguém que morreu em virtude de ter dedicado a sua vida a praticar crimes", afirmou o delegado Carivali.

Segundo a presidente da Associação dos Moradores do Condomínio Princesa Isabel, Eurides Teresinha Pires da Costa, Xandi era adorado por todos que vivem no prédio. Ela diz que os moradores juntaram dinheiro através de uma “vaquinha” e pagaram pelo grafite.

À época, Eurides contestou o envolvimento do traficante com o crime organizado. "Ninguém vai tirar de mim o que ele representou. Para mim, era uma pessoa boa. Nunca provaram que ele era traficante. Vou sentir muita falta dele", lamentou.

Operação prendeu 46 por tráfico em condomínios sociais na Restinga

Uma megaoperação realizada em no último mês de outubro prendeu 46 pessoas na Restinga, local onde agia Roger e onde foi feita a homenagem à ele. Segundo a polícia, pelo menos 14 quadrilhas atuam na região. Alguns dos criminosos expulsavam moradores de condomínios Camila e Ana Paula, do programa Minha Casa, Minha Vida, para usar os imóveis como ponto de tráfico de drogas.

Imagens feitas pela Polícia Civil durante a investigação mostram que os traficantes atuavam livremente na área dos condomínios. No vídeos, os bandidos oferecem “a melhor droga”.

"Eles vendiam drogas dentro do condomínio, à luz do dia, sem se preocupar em esconder que estavam vendendo drogas", afirma o delegado Leonel Carivali sobre a investigação.

O foco da ofensiva, que mobilizou mais 650 agentes, foram dois condomínios. Os agentes cumpriram 100 mandados de busca e apreensão e 43 de prisão. Ao todo, foram quarenta e seis presos. Outros 16 foram presos ao longo dos nove meses de investigação. Nos apartamentos, foram encontrados materiais como drogas, rádios comunicadores, um binóculo e réplicas de armas, incluindo de um fuzil.

Segundo a Polícia Civil, a investigação começou a partir de denúncias de moradores. Eles contaram que eram obrigados pelos traficantes a sair de casa. Em outros casos, os moradores eram pressionados a esconder armas, drogas ou até dar abrigo aos criminosos por alguns dias.

Polícia indiciou 58 pessoas por tráfico em prédios do Minha Casa, Minha Vida

A Polícia Civil concluiu o inquérito sobre megaoperação contra o tráfico de drogas, deflagrada em outubro deste ano

em dois condomínios do Programa Minha Casa, Minha Vida na Restinga, na Zona Sul de Porto Alegre. Foram indiciadas 58 pessoas por tráfico e associação, além de outros crimes.

Conforme o titular da 1ª Delegacia do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), Mário Souza, cerca de 60 moradores dos imóveis confirmaram que havia ponto de tráfico de drogas no local e alguns eram pressionados a abandonar as residências a mando dos criminosos. A Polícia Civil identificou ao menos 46 imóveis ocupados por traficantes nos dois condomínios.

Além das buscas em diversos pontos do bairro, dois condomínios do Minha Casa, Minha Vida foram alvo dos policiais: os residenciais Ana Paula e o Camila. Alguns moradores foram expulsos dos apartamentos e outros foram obrigados a dar "guarida" aos criminosos, guardando drogas e armas, por exemplo.