Construtura diz que ’não há mais riscos’, mas peritos contratados pelo condomínio dizem que ainda é preciso fazer reparos no prédio

 

Moradores de um condomínio no Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, completaram três meses fora de casa depois que a Defesa Civil Municipal de São Paulo interditou o prédio por causa de rachaduras, que colocaram a construção em risco de desabamento. Depois da interdição, novas rachaduras apareceram.

Durante o período, a DMF Construtora, responsável pela construção do condomínio disse ao G1 que fez o escoramento, obra para reforçar a estrutura, por "liberalidade da construtora” e que “não há indícios de problema”. Peritos do Instituto Falcão Bauer, empresa contratada pelos moradores, contestam a informação e recomendam mais reforços estruturais.

Um parecer será concluído pelo Falcão Bauer até sexta-feira (24), e o laudo definitivo será apresentado até o fim de junho. (leia mais abaixo).

Enquanto isso, moradores que viviam no condomínio hoje precisam pagar aluguel de flats e outros apartamentos ou ter que morar em casa de parentes e amigos. Uma das moradoras, que não tem parentes em São Paulo, precisou se mudar para o Rio de Janeiro enquanto espera pelo fim da interdição do prédio.

O dono da construtura, o engenheiro Francisco Della Manna, informou ao G1 que foi feita uma “reunião com engenheiro do corpo diretivo do condomínio para ver o que seria feito. Ficou acordado o reforço das paredes comprometidas, o reforço das fundações". Ele garante que "Hoje, não há nenhum risco."

Della Manna afirmou ainda que as vistorias feitas pela construtora detectaram que 2 dos 6 apartamentos afetados com as rachaduras tiveram paredes estruturais retiradas pelos moradores em obras realizadas após a entrega do imóvel. “Foram retiradas paredes estruturais dois apartamentos em andares baixos nas prumadas onde houve os problemas”, disse.

O engenheiro afirmou também que a construção está apta a receber os moradores de volta.

“Entendo que o condomínio precisa pedir para a Defesa Civil desinterditar. No nosso entendimento, o prédio está seguro para morar novamente. O prumo dos elevadores está perfeito também. Não há indícios de problemas", disse o responsável da DMF Construtora.

De acordo com a empresa responsável pela construção do condomínio, o cronograma das obras de reforço estrutural no condomínio foi concluído em duas etapas: a primeira em 18 de abril e a segunda em 30 de abril.

Moradores contestam

Os moradores do condomínio, no entanto, contestam a cronologia apresentada pela construtora, informando que equipes da DMF Construtora estiveram no prédio até terça-feira (14) no local, mas não fizeram tudo que foi acordado em reuniões entre as partes.

Eles contrataram o Instituto Falcão Bauer para fazer perícias no condomínio. A empresa informou ao G1 que “nossos calculistas consideraram necessária ainda uma adequação no reforço executado nas cortinas de contenção (escoramento do prédio) no trecho do estacionamento para poderem liberar o prédio com segurança.”

“O condomínio continua interditado. Técnicos da Falcão Bauer [instituto contratado pelo condomínio para fazer perícias no prédio] encontraram uma trinca em um bloco estrutural, que precisa ser resolvido em uma das torres afetadas”, disse ao G1 o morador Conrad Elber Pinheiro, 40 anos.

Ele disse que a vistoria feita pelo Instituto Falcão Bauer encontrou fragilidades estruturais na garagem do condomínio. “A garagem tem três subsolos. Há uma cortina de concreto e uma alvenaria de vedação, que foi retirada para que a construtora pudesse acessar o local e fazer exames técnicos no local. São 15 ou 16 furos que precisam ser concretados.”

Pinheiro afirmou ainda que, segundo técnicos do Falcão Bauer, a “cortina de concreto nas garagens se movimentou 20 centímetros em 13 ou 14 anos. O prédio foi entregue no final de 2005. Por conta dessa instabilidade da estrutura que não confiamos no laudo da DMF Construtora afirmando que os prédios estão estáveis.”

Desconfiança

A síndica do condomínio, Raquel Morgenstern, disse que não vai pedir o fim da interdição do prédio para a Defesa Civil Municipal de São Paulo com base em um documento da DMF Construtora.

“Os moradores estão neste momento esperando a definição de um laudo da Falcão Bauer se podemos desinterditar. Não avisamos a Subprefeitura porque não vamos confiar num parecer do réu, que é da construtora. O parecer da Falcão Bauer é que iremos confiar”, disse Raquel.

"Construtora está querendo empurrar um convencimento de que o prédio está estável para moradia. Na incerteza, o condomínio não vai tomar nenhuma decisão por conta da insegurança. Em quem vamos acreditar? Na construtora?", questionou a síndica.

Raquel afirmou ainda que “nenhum engenheiro contratado para assessorar a construtora assinou o laudo, o documento foi assinado apenas pelo dono da construtora, o senhor Francisco Della Manna, que é diretamente interessado em desinterditar o prédio.”

A síndica informou que a DMF Construtora também não está pagando o auxílio moradia para quem foi desalojado. “A construtora não está pagando auxílio de moradia. Apenas algumas em juízo e outras eles estão protelando. Das 106 unidades, recebi informação de cinco unidades que receberam.”

Próximos passos

A síndica do condomínio afirmou que vai “pedir para a Defesa Civil e para a Subprefeitura fazer uma vistoria no prédio.”

A Subprefeitura Campo Limpo informou, em nota, que “aguarda que os reparos na estrutura do prédio sejam realizados pela construtora responsável para então realizar nova vistoria, juntamente com a Defesa Civil, e verificar a possibilidade de desinterdição.”

A Secretaria da Segurança Pública informou, em nota, que "o crime é investigado pelo 89º Distrito Policial (Jardim Taboão), que apura crime de periclitação da vida, que é colocar em risco a vida de outros. Testemunhas foram ouvidas e a autoridade policial aguarda a conclusão dos laudos periciais".