Oito morreram no prédio da Barra da Tijuca, em 22 de fevereiro de 1998. Na época, laudo pericial apontou erro de cálculo.

O desabamento do edifício Palace II, na Barra da TIjuca, Zona Oeste do Rio, completa 20 anos nesta quinta-feira (22). No entanto, duas décadas depois do acidente que matou oito pessoas no dia 22 de fevereiro de 1998, vítimas da tragédia ainda esperam por indenização.

Desde a tragédia, as famílias dos 120 apartamentos ocupados - do total de 176 - receberam, no máximo, um quarto das indenizações devidas pela construtora Sersan, responsável pela obra.

"Parece que nós estamos sendo punidos pelo judiciário. Estamos esperando 20 anos pelo nosso direito. Tivemos uma tragédia, fomos vítima e estamos pagando pelo judiciário esse tempo de 20 anos que não conseguimos reconstruir a vida ", diz ex-moradora Ana Carolina, que recebeu apenas 9% do que deveria.

A dona de casa Jussara Borges Santos relembra os momentos de pânico vividos naquele dia. Após perder tudo, inclusive os documentos, Jussara conta que viveu com a família em hotel por oito anos.

"Morei oito anos num hotel, esperando por uma solução que nunca chegou. Não gosto nem de ficar pensando nisso porque vem tudo, né? Vem tudo na mente da gente. Foi uma noite de terror. Correndo com meu bebê nos braços, meu bebê tinha 20 dias. Mergulhei no chão como se tivesse mergulhando numa piscina e fiquei escondida com meu bebê debaixo de mim para ninguém me pisar. É uma coisa de louco, eu não gosto nem de lembrar disso".

Por meio de nota, a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Rio informou que o processo sobre a queda do edifício está na fase de execução, quando as indenizações precisam ser pagas. De acordo com o TJ, a demora na liberação do dinheiro acontece porque credores têm entrado com recursos na justiça e isso atrasa o pagamento das indenizações.

Relembre outros detalhes do Palace II

O edifício foi construído em 1990 pela construtora Sersan, do então deputado federal Sérgio Naya. A obra estava prevista para ser concçuída em 1995, mas houve atraso. Segundo os moradores, em 1996 o edifício chegou a ser interditado pela Defesa Civil após ter morrido um operário ao cair no fosso do elevador que apresentava defeito. A construtora já havia sido processada 4 vezes em virtude da má construção do prédio, que não havia recebido o habite-se da prefeitura.

O prédio tinha graves defeitos de estrutura e acabamento, o que motivou a interdição pela Defesa Civil. Apesar do risco, 30 moradores buscavam seus pertences quando aconteceu o desabamento. Oito pessoas morreram soterradas.

Em 2009, Sérgio Naya morreu em Ilhéus, na Bahia, o que agravou o problema, já que os bens que possuía acabaram reunidos em espólio.

A Calçada foi a construtora que lançou um prédio de apartamentos no mesmo terreno que abrigou o Palace II. O Barra One, nome do novo edifício, abriga 180 apartamentos.

O projeto respeitou a arquitetura do antigo Palace I, prédio vizinho à tragédia, que continua em pé e foi rebatizado com o nome de Joá. Para aumentar a identidade visual entre os dois edifícios, a Calçada modificou o revestimento da fachada do Joá e em outras benfeitorias, sem nenhum custo para os atuais moradores.