Corrosões em armaduras: um perigo real

Problemas construtivos aliados à ação do oxigênio e de cloretos da água do mar podem comprometer estruturas de edificações

 

O concreto armado é um processo construtivo que consiste na combinação do concreto com uma armadura de aço e, embora não seja a única opção, é a técnica mais utilizada em todo o Brasil para construção de edifícios. Aliada à baixa complexidade na execução, o método reúne as propriedades de resistência à tração do aço com a resistência à compressão do concreto.

O resultado é um material que tem como vantagens poder assumir qualquer forma e viabilizar grandes construções com rapidez. Mas apesar de muito utilizado pela sua versatilidade, o método pode sofrer o processo de corrosão das armaduras e trazer riscos às edificações.

Segundo o engenheiro civil Aécio de Miranda Breitbach, a corrosão ocorre com a entrada do oxigênio nas camadas de recobrimento do concreto que possuem espessura insuficiente. “Isto se dá quando a armadura é concretada sem garantir a espessura mínima de recobrimento durante a construção”, diz.

Aécio explica que a corrosão reduz a parte útil da barra de aço, diminuindo sua capacidade de resistência aos esforços de tração. “A parte útil de concreto também é reduzida pelo deslocamento da camada de recobrimento resultante da expansão corrosiva. A perda reduz a capacidade de suporte aos esforços de compressão, muito presente em pilares e vigas”, esclarece.

Causas

O engenheiro Rafael Antonio Dias explica que a corrosão pode se dar tanto por falha de projeto, de execução como também por falta de manutenção.

“As falhas de projetos estão ligadas à especificação errada do tipo de concreto e cobertura das armaduras em relação ao local da edificação, as falhas de execução estão relacionadas ao não cumprimento das exigências do projeto estrutural. Já a falta de manutenção propicia a penetração dos agentes agressivos que danificam as armaduras por meio de fissuras nas peças estruturais, o desgaste da pintura e das impermeabilizações”, relata o engenheiro.

Outro fator importante que contribui para a corrosão é a penetração de cloretos, provenientes da maresia ou do contato direto com a água do mar.

“O aumento do diâmetro da armadura da peça estrutural faz com que o concreto ao seu redor se desloque tornando a armadura mais exposta e agravando mais ainda a condição de exposição. Em casos extremos a armadura pode se romper perdendo sua função estrutural e levar a estrutura ao colapso”, alerta.

Construído há mais de 30 anos, o Condomínio Morada Tannenbaum, em Florianópolis, sofre muito com a influência da maresia e, para evitar danos, a administração do condomínio fica sempre atenta quando surge alguma anomalia. “Recentemente fizemos uma vistoria completa na parte externa do prédio, recuperando pequenas fissuras, com tratamento das ferragens. Procuramos manter o prédio dentro dos parâmetros exigidos por lei”, explica o síndico Julcinir Gualberto.

Sintomas

De acordo com o engenheiro Aécio, os primeiros sintomas que aparecem são as rachaduras longitudinais e o desprendimento de concreto, que se forem restaurados rapidamente podem impedir a evolução do processo corrosivo.

“Uma vistoria preventiva pode identificar os danos prematuramente proporcionando custos mais baixos de restauração”, ressalta.

Segundo Aécio, soluções paliativas, que não utilizem materiais corretos e sejam de técnica rudimentar são um grande erro, pois permitem a evolução do dano. “Rebocar por cima da corrosão com argamassa de cal e cimento, por exemplo, só vai aumentar o problema”, alerta Aécio.

O procedimento correto de restauração é remover todo o concreto solto em torno da armadura exposta, escovar com cerda de aço para remover a corrosão existente, pintar as armaduras com tinta fosfatizante especial para receber concreto em seu entorno e preencher o vazio criado com argamassa polimérica tipo Groute, que apresenta resistência superior ao concreto existente e tem capacidade de aderência sem apresentar fissuras de retração.

“Em casos extremos a restauração simples pode não resolver e será necessário executar um reforço da estrutura, ou seja, aumentar sua seção com adição de nova armadura, muitas vezes solidária à já existente, e recoberta por concreto especial”, acrescenta o profissional.

Com 60 unidades e 24 anos de existência, o Condomínio Residencial Delle Alpi, no bairro Pantanal, em Florianópolis, também teve de lidar com a corrosão das armaduras. Síndica do condomínio, Riceli Maiochi conta que o problema foi detectado em 2016 por um morador que verificou o desprendimento do concreto e a ferragem aparente em um pilar da garagem.

Segundo Riceli, o condomínio contratou um engenheiro que concluiu através de relatório técnico que os danos ocorreram devido a um erro construtivo, pois havia deficiência no recobrimento da armadura.

“Em Florianópolis, como ilha oceânica, o cloreto está presente no ar proveniente do mar. No nosso caso, o reboco funcionou como barreira bloqueando o acesso até a superfície de concreto. No entanto, após a saturação da camada de reboco o oxigênio atingiu rapidamente a armadura que estava sem o recobrimento suficiente”, relata a síndica.

Para resolver o problema foi necessário remover todo o reboco das vigas e pilares afetados, e também o concreto solto ao longo das armaduras corroídas.

“A recuperação estrutural foi tratada com o método e material indicados pelo engenheiro responsável e teve um custo aproximado de R$ 32 mil”, diz a síndica.