A mando de ex-motorista da família, grupo tenta matar aposentados após roubar cerca de R$ 500 mil em joias e pertences

Quando o britânico Anthony Burgess escreveu o clássico livro “Laranja Mecânica”, que se tornaria um marco do cinema dos anos 70, a imagem de ultraviolência, representada pelas gangues que invadiriam as ruas da Inglaterra no futuro, se baseava no que o autor imaginava que seria a sociedade inglesa no século XXI. Em Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte, a vida parece ter seguido o roteiro britânico, numa espécie de releitura à brasileira.

Foi no condomínio de classe média alta Aldeias do Lago que cinco homens, que foram apresentados nesta quarta-feira (5), pela Polícia Civil, reviveram a história de Alex e sua gangue de forma cruel. O líder seria o motorista de um casal de idosos, de 54 anos, que assumiu ter invadido o imóvel dos patrões, com a ajuda de um jardineiro do condomínio, de 29 anos, para roubar as vítimas, torturá-las e agredi-las de forma cruel, além de tentar matá-las.

O crime aconteceu no último dia 16 de fevereiro. De acordo com o delegado Felipe Freitas, que comandou as investigações, as vítimas, dois doleiros aposentados - o homem de 64 anos e a esposa de 57 - foram abandonados em um matagal, em Igarapé, na mesma região, após os criminosos acharem que tinham conseguido assassiná-los.

Outros quatro suspeitos participaram do crime. Três homens, de 18, 19 e 30 anos e um adolescente, de 17 anos. Eles disseram à Polícia Civil que o crime foi orquestrado pelo motorista do casal, que tinha trabalhado durante um ano para a família.

"O motorista combinou de o jardineiro levá-lo, com os comparsas, na noite do crime, no imóvel dos idosos. Os comparsas ficaram escondidos no porta-malas do carro, para que eles passassem pela guarita do condomínio", explicou o delegado

À maneira como os personagens do livro de Burgess fariam - com crueldade sem pena e limites - os suspeitos invadiram a casa e, de acordo com o depoimento deles próprios aos investigadores, espancaram as vítimas de forma brutal, a mulher no quarto e o homem no banheiro. "A violência foi tanta que o idoso sequer reconhecia os suspeitos, nem sabia contar decerto o que havia acontecido", afirmou Freitas.

Após o espancamento, os homens roubaram cerca de R$ 500 mil em pertences e jóias que estavam em um cofre cuja a chave o jardineiro sabia onde ficava. Mais uma vez, a vida imitou a ficção: os itens foram vendidos a R$ 12 mil, em um shopping popular no centro da capital.

É a mesma barbaridade da gangue do filme, que jogava fora o dinheiro dos furtos cometidos sem motivação.

Arrancar os olhos e a língua

Os suspeitos contaram que, após o roubo, levaram as vítimas e as abandonaram em um matagal em Igarapé, na região metropolitana de Belo Horizonte, pois acreditavam que elas haviam morrido.

“Eles atiraram no aposentado, que ficou com um dedo decepado e levou um tiro na nuca. A mulher desmaiou de tanto ser agredida. Ambos, porém, sobreviveram”, contou o delegado. Eles foram socorridos por moradores da região, momentos após o crime.
Os próprios criminosos contaram à polícia como torturaram, sem motivo, o casal. Segundo eles, o jardineiro ameaçou furar os olhos e arrancar a língua do homem e ameaçou matar a mulher. Além disso, um cinto foi amarrado no pescoço do idoso, que foi arrastado pela casa. Contudo, um dos comparsas achou a tortura pesada demais e resolveu jogar fora o canivete que seria usado para a ação.
Em entrevista, um dos suspeitos riram, outro negou o crime. Já o jardineiro, líder do grupo, disse que torturou o casal sem motivo, pois eles eram bons patrões. Ele trabalhou com o casal por 1 ano.
Menor está em casa, apesar de decisão
Os suspeitos maiores de idade responderão por roubo qualificado, associação criminosa e corrupção criminosa, além de latrocínio ou homicídio tentado - já que a tipificação depende da interpretação da Justiça. A pena mínima é de 28 anos de prisão.
Enquanto isso, o adolescente que participou da ação responde a delitos análogos aos crimes pelos quais os maiores foram indiciados. Apesar de a Justiça já ter determinado que ele cumpra medida socioeducativa em regime fechado, ele está em casa, pois não há vaga no sistema socioeducativo estadual.